Piolhos70

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Piolhos 70 é uma associação crítica à indústria cultural e dos meios de comunicação em massa, os piolhos, com suas antenas de TV, são os parasitas da cultura, no caso, a obra de Pablo Picasso - O Beijo (1969) - em total estado de alienação, submissa aos domínios das mentes maliciosas dos tais insetos.

SambaLUco

Vc me pergunta:

"vc conhece a letra do samba clássico A COROA DO REI?"

Me deu uma vontade de ler sobre o rei Ogum e os cavaleiros da roda de samba.


SambaLUco;

data de 23 de abril de 1973, segunda - feira. Menino Lu aos 16 anos, em pleno século XX numa de suas viagens pelo Brasil, de passagem ao sertão do Pernambuco.

Uma pexera cravada
Numa pedra quadrada
Vinda de onde?
Do nada.

Mas ali estava
em Serra Talhada,
no rio Pajeú.

E no botão de pegada
uma escrita gravada,
em letra dourada
e uma frase Crua.

Dizia: quem dali esse troço tirasse.
Homi só fosse, não bastasse,
Será o rei do Pajeú.

Menino Lu se adiantou
Foi até a pedra e puxou,
nem da força o cabra usou
a pexera dali arrancou,
Os boiadero saudou “- Muuuu!!!!”.

Esse o Rei, ai é o Lu !!

E por de lá ele falou:
Salve o rei Exu!!

E com duas cacetada.
Picou umas gueroba ajuntada
Lá do cerrado do Goiás,
estado de onde invinha.

E saiu muntado num cabrito
Lá pra São José do Egito,
Que de lá se ouviu um grito
De um repente em ode a tu.

Por lá declamou o que sabia
E subiu num jegue entre a folia
Rumo a Vitória da alegria,
Quis passar em Santo Antão.

No caminho sua pexera
Foi cortar o céu Dali,
E no meio a bebedera
Viu girafa, viu saci,
Ele infante com perna comprida,
Viu uma nuvem sacudir
e o mar cair no chão.

Entre a seca trouxe o rio.
Houve a guerra,
Trouxe a calma.

Uma pexera cravada
Numa pedra quadrada,
nem calango, nem urubu,
Vindo de longe.
Oxalufan.
Lu.

Ricardo Abdala.

Mensagens virtuais ao amigo Lu

Mas não só toda fina poeira que minha experiência ínfima em vida me concede que alimenta hoje, um dos sonhos fakes que tive cujos campos de Trigo com corvos reúnem flores e conversas abertas em nossas janelas virtuais, com frases de Franz Kafka.

Faço um trabalho contigo, meu amigo.
Desato o que se chama comboio de cordas sem exageros, e digo que a vida, a minha, presente aqui em prosas, passa subjetivamente mais, very mais feliz nas tardes de domingo [em todo primeiro domingo do mês], e em praças públicas e nas rodas de samba, eu consigo amar demais a humanidade.

Chego sempre e me pergunto: - Onde ele está?
Ontem exatamente eu me perguntei e a alguns amigos: Quando ele não estiver mais na Dicult, será que ele parará de frequentar as atrações?
E o que será das atrações sem a força de vontade e o espírito jovem, que reúne sonho e Soho (lá por trás do Cais do Porto na ladeira metálica da Preguiça) e paixão a Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria?

E você mistura as dores das pernas ao sangue do coração.
Mas não é o coração que fica insuperável e pode em vida imortalizar?

Sim..
De fato acredito.

Abraço.
Saravah’s.

29/10/2008

Deus

Meu Deus..

O que será de mim?
Da minha vida, meus poemas?
Parte de mim vive na ideologia de meu dilema,
entre a vida, edema, xilema, o samba,

Meu violão...
Âmbar da minha floração,
espera o cantar que alivia
se para mim trataste
o remédio,
que procura a melhor maneira da morte.

Pensar o poema, é imaginar o cosmo,
que se expande, outrora se atrapalha e volta,
trazendo as estrelas,
atropela os deuses,
e desfaz toda a realidade.

O Senhor por sua vez, fica neste propósito, sentado,
à espera do Homem que baterá a sua porta,
bêbado, arredio, como um animal tresmalhado,
subindo aqueles últimos degraus que lhe resta e dizendo: Eu sou você.

Ricardo Abdala.

Ar

Ele aprendeu olhando as pedras na calçada
e o resto dos 30 cigarros que se acumulavam no cinzeiro.
De tanta tristeza, solidão, rabiscava uns versos,
e convivia com eles como se fossem velhos amigos.

[Soltava a fumaça da garganta
e puxava pela boca.]

Há os que se embriagam,
e acham que a sacada do hotel seja o mictório.
Existem os que já nascem bêbados,
E incorporam líquidos na goela para se tornarem sólidos.

Ele enfiava o dedo no nariz
e bebia cachaça entre os amigos.
Levava coice de um burro alado
e trespassava o dedo na ferida.

Pela úlcera visceral que a dor se tornara,
por entre as sombras que lhe resta,
faltara moradia por entre o leito
da força magistral
e um deus feto, filho de seu ventre, iluminava seu rosto,
naquela madrugada fria.

Ricardo Abdala.