A Fome (chorume).

E agora é a Fome que embala seus cabelos hirsutos…

Dona daqueles olhos cavos,
de pura pele pálida e dura…
Os lábios sujos repousam descorados e murchos.

Salta o sangue que esguicha do tronco ferido!
O que restam das folhas e as glandes perderam a cor
e os galhos soltos desfalecem sofridos.

É quando você desperta faminto.
Come com apetite devorador.
Exige mais alimento, mais bebida.
Sua fome cresce, cresce, CRESCE…

Sua fome, filha da Noite, cresce no golfo sem fundo de seu ventre,
Já havia consumido parte dos bens que herdara do pai.
Não existe agora outra coisa senão comer e uivar de dor.

E depois de anos de dedicação às artes escritas,
entre algum relapso da maldade torta da própria solidez,
você segura firme naquele poema que leva seu nome.

Coma!
O poema…
Coma!

Coma, depois me escreva uma lembrança
com o que resta de seus membros.

Toma

A barba cresce e polui o rosto
enquanto ouve o canto lírico dos orixás
e as vistas embaralham o olhar sobre as lentes,
da ótica imprecisa que vence a guerra.

Vivem alguns, outros morrem,
Tudo se resolve.
Mas ele carrega consigo as chagas poéticas,
feitas de aço, feridas a ferro, fundidas a vácuo,
misturadas a carbono 14.

E saiu depressa de casa
antes mesmo de escrever e engolir o remédio:
- Alívio instantâneo para o peito vazio -

Mas ele levantou as mãos para o céu,
pegou no ar um pedaço de papel de pão
e escreveu: - cerveja gelada, 50 graus GL.-
Bebeu e seguiu em frente.

Fez de sua poesia
Uma ode escrita: vale uma sobrevivência.
E sobreviveu com ela.

Em todos os Tons,
somos engolidos como em doses homeopáticas.
Mais um trago?
Não sei...
Pergunte a nossos amigos...

Mas do que necessita senhor?
Um si maior, por favor.

Não vá

No prazer da dor, na hora H da partida,
você procura todos os modos líricos
de marcar de repente a cometida violência
de todos os sonhos que a vida produz.

- Mas é minha amiga, e nada aqui reluz ... -

Você não escolheu a poesia
não seria tão hipócrita!
-Grita minha maldita alma parasita-

Este cacifo apócrifo que é planilha de seu universo,
visivelmente não convence a ninguém.
Só a você.
Este borrifo de penas que cai na sua mesa de jantar,
simplesmente não diz nada.

Nada.

Eu nada.
Eu nada mesmo.
Eu ponto de cruz na cabeça do piolho.
Eu vaso de planta da casa do repolho.
Eu molho de nádegas na jazida do restolho.

Há poucas mulheres assim, feito você.

Então escreva comigo querida,
vamos passear pelo bosque
enquanto ainda existe algo humano dentro de mim,
pois depois de poeta, eu serei planta,
depois de mim, eu serei como o Ipê,
amarelo.

Mas não se esqueça de mim.
Pois é por você que renascerei
Sempre.

Quem sou eu?


Sou um estudante de engenharia que gosta de poesia.
É isso mesmo! A minha engenharia gosta de poesia.
Pra lembrar o grande mestre Joaquim Cardozo (um grande poeta engenheiro, responsável pelos cálculos estruturais na construção Brasília e possuidor de uma riquíssima obra poética) e os avanços de suas metáforas tiradas das leis da física: ‘‘Harmonia do equilíbrio!/Cega dinâmica embaraçada entre linhas/De força magnética!/Em hélices seguindo e refletindo: dança de elétrons e prótons/Matéria-mater do mundo.’’

Tão apurado assim, um dia eu serei.
E o equilíbrio destes versos, eu pretendo seguir.
Em uma primeira visão, poderia ser isto muito simples, mas confesso que vivo sempre num dilema.
Por vezes sou muito mais um estudante de poesia que gosta de engenharia.
É... A minha poesia gosta de engenharia!
Tantas noites mal dormidas, lendo sobre deuses e heróis da antiguidade clássica, bem na véspera de provas matemáticas,
Tantos atrasos na faculdade eu sofro.
Sofro...
Uma total irresponsabilidade minha certamente,
Mas a poesia me persegue...
Como a praga da sarna segue aquele que não toma banho todo dia,
É um coça, coça, roça, roça, sem alívio...
que incomoda a todos que de mim se aproxima.

E por tais razões, é que escrevi estes versos:
“Meu Deus...
O que será de mim?
Da minha vida, meus poemas...”
Mas agora respondo:
Sei apenas do meu cantar neste instante
e a única água que me banharei e que beberei, será aquela brotada um dia
pelas patas de um equino alado.

A água que mata a sede da vida.
A vida, esta escrita enigmática...

Vinícius de Moraes (Discos)

 
1963 - Vinicius e Odete Lara

1965 - No Zum Zum (Vinicius e Caymmi)

 1966 - Os Afro-Sambas
(Baden Powell e Vinicius de Morais)


1966 - Poesia e Canção Ao Vivo

Songbook (Baden Powell)

Download Songbook: 

Baden Powell (Discos)

 
1959 - Apresentando Baden Powell e seu violão

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 1962 - Baden Powell swing with Jimmy Pratt

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 1966 - Tristeza on guitar

Download (Tristeza on guitar):
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1966 - Tempo Feliz (Baden e Maurcio Einhorn)  
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1969 - 27 Horas De Estúdio 
Download (27 Horas De Estúdio):
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1971 - Estudos
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1971 - Solitude on Guitar
Download(Solitude on Guitar):
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1971 - É de lei
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1973 - Apaixonado 
Download (Apaixonado):
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1974 - Stephane Grappelli & Baden Powell - La Grand Reunion Vol. 1
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Download (Live in Hamburg):
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Baden Powell (Bibliografia)

 
  

(Vídeos)

Violão

Uma lembrança:
É a vida...
esta escrita enigmática de dois pilares pequenos,
que me entorna a face
e me fere os olhos insanos.

Mas tudo que vejo em minha frente,
é Eurídice a serpentear ao longo de um rio que passa
e eu paro e espero a valsa acabar.

Quando a noite chega sentada num carro branco,
com um véu semeado de estrelas,
é a deusa das trevas
que cobre de luto minha natureza.

Esfrego as mãos nos olhos da razão:
Não pode ser!
Não pode ser mão!
Não poderiam ser olhos não!

Mas aqui está este cavalo branco
a se fazer presente.
Estas asas compridas.
Este meu peito dormente.

Volte meu amigo,
Leve – me consigo àquela fonte.
Quero beber daquela água.
Contemplar o meu futuro.

E ele voa,
ao longo do todo.
Do Tudo.
Meu próprio ego foi - se embora.
Meu ato ficou mudo.

É a filha do Caos
que permeia o vento.
Neste meu quarto escuro.
Este meu grito são.

É a vida.
Minha diva e meu divã.

Eu e meu violão.

Ricardo Abdala.

Realmente

Há sempre a dívida da metade do pre a percorrer o presente,
e a metade do p,
que se encaminha em meio ao silêncio
no centro da metade do pensamento
desde a gênese do nada,
Que você criou agora
sem nunca sair do lugar.

Realmente...

Finge você que se esqueceu de dar o recado,
pois não quero ver nem falar...

que o dia que isto acontecer vai ser assim,
de surpresa.
Quando a gente topar por ai.

- E O PRESENTE?
Não tô nem ai pra presente!
Não tenho dó.

Agora acalma –se:
Ao pres do presente
fico parado
meio doente,
no meio do ente.

Algum pretexto para este pretérito quase perfeito?
Venha até aqui a toa agora!
Já lhe disse que todos os momentos do mundo são poéticos?

Realmente...
E foi uma noite linda.
Adorei quando quis ir embora e você pediu que eu ficasse.
Você gosta da minha companhia
e eu gosto do seu cheiro.

Ricardo Abdala.

Resto da vida

Na cama,
vamos falar sobre o poema.
Problema?
Não.
PÓ - EMA.

Naquela época
vinham de fábrica
cigarros sabor leite materno
e as pessoas bebiam com graça
café preto com cachaça.

Eu tentava a vida toda
apagar da memória
- 89 anos de existência -
insistência talvez, naquilo
que não se resolve.

A dor que desatina o peito,
derrama o sal sobre o rosto.
A luta que nos veste de preto.

Aqui mesmo nesta ponte,
os anos passam e resta
apenas o que somos
-a outra metade do pão-

Miércoles mortais,
da quarta - feira de cinza,
um dia depois
da nossa própria vida.

Ricardo Abdala.

Sentido

Esperam mesmo que digiramos o canto espasmódico
que retumba do ventre acídulo de nossa aldeia...

Ah saudade! Ai quem dera!

Senta aqui!
Ouça você!
Saiba que somos o disco preto riscado, tocando da parte de trás para frente,
a retórica mecânica de nossos progenitores,
a aritmética escrita nos espinhos das rosas caídas na porta dos templos ateus.

Somos as lágrimas sem rapa, derramadas sobre a estética.
A autêntica aulética da botânica das flautas.
A música que sai dos olhos cegos de nascença.
O ritmo que soa do silêncio dos sinos bêbados.

Somos eu.
Somos você.
Somos nós.

Somos o Pã
e a pá.
O pó
e a pólvora.
A carapaça das tartarugas tresmalhadas.
O som que sai do sopro
dos poemas sem pautas.

A parte da saudade que me dera,
Que deveras
saber sobre.

Espera mesmo...

Ricardo Abdala.

Poema Mudo

É preciso estar doente,
sentar - se à beira das calçadas escuras,
sentir a pele da face suja,
provar da fome que se tem.

É preciso encontrar o Homem onde ele menos diz que se procura.

E nas secas da solidão, eu beber do resto
onde nasce o poema, na calma vazia, da cama vazia
inconstante agonia dos eus que nossa vida suja, profana, procura.

Eu invisto na vida como o samba veste a tristeza.
Cheio de defeitos e verdes de mágoas, promove a alegria,
em um poema sujo, profano, escuro.
Faz jaz aos meus mitos que não são pra explicar as origens do mundo.

Meu poema mudo.

Com todo respeito, Sophia,
você saberia onde enraízo a alegria?
Você sabe aonde vai meu violão vadio?

Você apenas passa, por onde passa
e não passa mais, pois eu a escuto,
naquele cinema mudo.
Que a vida muda, pára e grita ao som dos ouvidos surdos
do velho cego Rei.

Sente Sophia, a filarmônica dos fariseus
e afasta de nós a fila da espera da vida, Sophia
e kant comigo este verso último
pois eu a escuto,
sentado na origem do mundo,
aonde passa o velho cego, calado e surdo.

Mudo, meu poema mudo.

Ricardo Abdala.

Piolhos70

TENTAÇÃO

OPINIÃO
MÚSICA
ESTILO
ESTÉTICA
EXISTENCIALISMO
CIÊNCIA



Piolhos 70 é uma associação crítica à indústria cultural e dos meios de comunicação em massa, os piolhos, com suas antenas de TV, são os parasitas da cultura, no caso, a obra de Pablo Picasso - O Beijo (1969) - em total estado de alienação, submissa aos domínios das mentes maliciosas dos tais insetos.

SambaLUco

Vc me pergunta:

"vc conhece a letra do samba clássico A COROA DO REI?"

Me deu uma vontade de ler sobre o rei Ogum e os cavaleiros da roda de samba.


SambaLUco;

data de 23 de abril de 1973, segunda - feira. Menino Lu aos 16 anos, em pleno século XX numa de suas viagens pelo Brasil, de passagem ao sertão do Pernambuco.

Uma pexera cravada
Numa pedra quadrada
Vinda de onde?
Do nada.

Mas ali estava
em Serra Talhada,
no rio Pajeú.

E no botão de pegada
uma escrita gravada,
em letra dourada
e uma frase Crua.

Dizia: quem dali esse troço tirasse.
Homi só fosse, não bastasse,
Será o rei do Pajeú.

Menino Lu se adiantou
Foi até a pedra e puxou,
nem da força o cabra usou
a pexera dali arrancou,
Os boiadero saudou “- Muuuu!!!!”.

Esse o Rei, ai é o Lu !!

E por de lá ele falou:
Salve o rei Exu!!

E com duas cacetada.
Picou umas gueroba ajuntada
Lá do cerrado do Goiás,
estado de onde invinha.

E saiu muntado num cabrito
Lá pra São José do Egito,
Que de lá se ouviu um grito
De um repente em ode a tu.

Por lá declamou o que sabia
E subiu num jegue entre a folia
Rumo a Vitória da alegria,
Quis passar em Santo Antão.

No caminho sua pexera
Foi cortar o céu Dali,
E no meio a bebedera
Viu girafa, viu saci,
Ele infante com perna comprida,
Viu uma nuvem sacudir
e o mar cair no chão.

Entre a seca trouxe o rio.
Houve a guerra,
Trouxe a calma.

Uma pexera cravada
Numa pedra quadrada,
nem calango, nem urubu,
Vindo de longe.
Oxalufan.
Lu.

Ricardo Abdala.

Mensagens virtuais ao amigo Lu

Mas não só toda fina poeira que minha experiência ínfima em vida me concede que alimenta hoje, um dos sonhos fakes que tive cujos campos de Trigo com corvos reúnem flores e conversas abertas em nossas janelas virtuais, com frases de Franz Kafka.

Faço um trabalho contigo, meu amigo.
Desato o que se chama comboio de cordas sem exageros, e digo que a vida, a minha, presente aqui em prosas, passa subjetivamente mais, very mais feliz nas tardes de domingo [em todo primeiro domingo do mês], e em praças públicas e nas rodas de samba, eu consigo amar demais a humanidade.

Chego sempre e me pergunto: - Onde ele está?
Ontem exatamente eu me perguntei e a alguns amigos: Quando ele não estiver mais na Dicult, será que ele parará de frequentar as atrações?
E o que será das atrações sem a força de vontade e o espírito jovem, que reúne sonho e Soho (lá por trás do Cais do Porto na ladeira metálica da Preguiça) e paixão a Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria?

E você mistura as dores das pernas ao sangue do coração.
Mas não é o coração que fica insuperável e pode em vida imortalizar?

Sim..
De fato acredito.

Abraço.
Saravah’s.

29/10/2008

Deus

Meu Deus..

O que será de mim?
Da minha vida, meus poemas?
Parte de mim vive na ideologia de meu dilema,
entre a vida, edema, xilema, o samba,

Meu violão...
Âmbar da minha floração,
espera o cantar que alivia
se para mim trataste
o remédio,
que procura a melhor maneira da morte.

Pensar o poema, é imaginar o cosmo,
que se expande, outrora se atrapalha e volta,
trazendo as estrelas,
atropela os deuses,
e desfaz toda a realidade.

O Senhor por sua vez, fica neste propósito, sentado,
à espera do Homem que baterá a sua porta,
bêbado, arredio, como um animal tresmalhado,
subindo aqueles últimos degraus que lhe resta e dizendo: Eu sou você.

Ricardo Abdala.

Ar

Ele aprendeu olhando as pedras na calçada
e o resto dos 30 cigarros que se acumulavam no cinzeiro.
De tanta tristeza, solidão, rabiscava uns versos,
e convivia com eles como se fossem velhos amigos.

[Soltava a fumaça da garganta
e puxava pela boca.]

Há os que se embriagam,
e acham que a sacada do hotel seja o mictório.
Existem os que já nascem bêbados,
E incorporam líquidos na goela para se tornarem sólidos.

Ele enfiava o dedo no nariz
e bebia cachaça entre os amigos.
Levava coice de um burro alado
e trespassava o dedo na ferida.

Pela úlcera visceral que a dor se tornara,
por entre as sombras que lhe resta,
faltara moradia por entre o leito
da força magistral
e um deus feto, filho de seu ventre, iluminava seu rosto,
naquela madrugada fria.

Ricardo Abdala.