Sentido

Esperam mesmo que digiramos o canto espasmódico
que retumba do ventre acídulo de nossa aldeia...

Ah saudade! Ai quem dera!

Senta aqui!
Ouça você!
Saiba que somos o disco preto riscado, tocando da parte de trás para frente,
a retórica mecânica de nossos progenitores,
a aritmética escrita nos espinhos das rosas caídas na porta dos templos ateus.

Somos as lágrimas sem rapa, derramadas sobre a estética.
A autêntica aulética da botânica das flautas.
A música que sai dos olhos cegos de nascença.
O ritmo que soa do silêncio dos sinos bêbados.

Somos eu.
Somos você.
Somos nós.

Somos o Pã
e a pá.
O pó
e a pólvora.
A carapaça das tartarugas tresmalhadas.
O som que sai do sopro
dos poemas sem pautas.

A parte da saudade que me dera,
Que deveras
saber sobre.

Espera mesmo...

Ricardo Abdala.

Um comentário:

Anônimo disse...

é como a flauta, doce.